Importância de preservar os recursos naturais e redução de custos leva condomínios a investirem no controle de gastos com água e luz
Lucas Benevides
A crise pela falta de chuvas na Região Sudeste no início do ano reacendeu a discussão sobre as estratégias para redução de desperdícios e formas de consumo consciente dos recursos naturais. Além do enfrentamento de crises, como aconteceu neste ano, as alternativas buscadas pelos condomínios para reduzir desperdícios representam uma significativa diminuição de despesas e valorização do imóvel. Por isso, cada vez mais os empreendimentos têm apostado em opções como a individualização do consumo da água, iluminação de áreas comuns com LED e o uso do gás natural. Paralelo a isso, novas tecnologias oferecem a cada dia novidades que podem ajudar a reduzir as situações onde ocorrem os maiores desperdícios nas residências.
O engenheiro mecânico e consultor David Gurevitz afirma que após efetuar uma vistoria em mais de 2,5 mil edificações, constatou que a frequência de investimentos em consumo consciente de recursos naturais ainda pode ser considerada baixa. No entanto, segundo ele, essa é uma situação possível de ser revertida, uma vez que muitas medidas de redução de consumo podem ser feitas simplesmente através da conscientização.
“A edificação é feita para durar muitas décadas. O custo inicial da construção representa apenas uma parcela de até 10% do custo da edificação ao longo do tempo. A redução de consumo de água e energia, que constituem aproximadamente 40% do custo operacional das edificações, implicará numa necessidade de valores condominiais menores, e terá um grande impacto na valorização do condomínio e suas unidades para sua comercialização ou locação”, afirma o engenheiro.
A economia de despesas incentivou e garantiu a adesão dos moradores nas ações de redução de consumo no condomínio de casas administrado por David Lima, em Rio do Ouro.
“A principal ação foi a individualização de água, o que gera em média redução de até 40% do consumo. Chegamos a pagar, em outra gestão, uma conta de R$ 17 mil, e após a individualização, a despesa foi para R$ 3,9 mil, em média. Motivados por essa ação, o próximo passo será a implantação de projetos de reutilização de água de chuva e poço artesiano, para molhar as plantas”, explica o síndico.
O aumento na taxa de condomínio seria inevitável se o consumo não fosse reduzido, além disso, segundo David, todo dinheiro em caixa do condomínio também seria gasto, impossibilitando investimento em melhorias. De acordo com o síndico, todos os investimentos em consumo consciente retornam em poucos meses, mas para que isso vire uma realidade é preciso uma profunda revisão nas normas.
“Foi importante mostrar que com a implantação dessa medida, os moradores passariam a pagar exatamente o que consumiam, ou seja, onde moram 10, paga-se por 10, onde moram dois, paga-se por dois, somente. Vale lembrar que os grandes “vilões” do desperdício nos condomínios são vazamentos ocultos como em cisternas, tubulações enterradas, jardim e as piscinas individuais das casas”, alerta David.
Água quente – Em residências populares, o gasto com chuveiro chega a 80% do consumo total de energia, e mesmo nas habitações de padrão mais elevado o chuveiro responde por, no mínimo, 50% do consumo total. Pensando nisso, uma startup brasileira que trabalha na desenvolvimento de produtos inovadores para geração, conservação e reciclagem de energia, teve a ideia de desenvolver um produto com a água do banho que escorre pelo ralo.
“Como essa água escorre ainda quente, boa parte da energia de aquecimento era jogada fora, então desenvolvemos um produto para recuperar essa energia. Nosso produto proporciona 40% de redução no consumo energético do chuveiro, sendo ele elétrico, a gás, solar, de passagem ou central. O consumo de água no banho permanece igual ao de uma instalação comum, porém obtém-se uma enorme economia de água nos reservatórios de geração hidroelétrica. Para se ter uma ideia dessa economia, para cada litro de água consumida diretamente no banho consome-se, para geração da energia que aquece esse banho, cerca de 100 litros de água em uma usina como Itaipu. O equipamento encontra-se em fase de testes de pré-comercialização e foi projetado para oferecer ao usuário residencial retorno do investimento em até um ano e meio”, explica o engenheiro Fernando Brucoli, engenheiro e inventor do projeto do CycleDrain.
Uma energia limpa, que não produz resíduos tóxicos, e em vez de fuligem e fumaça negra libera somente vapor d’água e gás carbônico, é o gás natural. Em comparação a outras energias, produz muito menos dióxido de carbono (CO2), o que contribui para a diminuição do efeito estufa e apresenta uma menor emissão de óxido de nitrogênio (NO) e uma emissão quase nula de dióxido de enxofre (SO2), partículas e compostos orgânicos que contribuem para a chuva ácida.
“Hoje, Niterói conta com mais de 38,5 mil clientes que utilizam o gás natural. E a expectativa para os próximos meses é ganhar 4,5 mil novos clientes e ultrapassar 43 mil unidades abastecidas entre residências e comércios em 2015. Destes, 35% são de novas edificações. O que demonstra a modernidade, a segurança e a confiabilidade que o gás natural canalizado proporciona. A aceitação é crescente, muito por conta da possibilidade de usar o aquecedor a gás. O gás natural é a energia mais econômica de fornecimento contínuo disponível e está em média 33% mais barato do que a energia elétrica”, explica André Otoni, gerente da CEG Zona Fluminense.
Iluminação - Além da água e do gás, a iluminação também é um dos principais focos de atenção, seja em ambientes industriais, comerciais ou residenciais, e por isso é tratada com mais atenção na hora de reduzir os gastos e pensar sustentabilidade.
“As lâmpadas e luminária LED (Light Emiting Diode, diodo emissor de luz) vêm gradativamente substituindo as incandescentes, que terão venda proibida a partir de 2016 e já estão entrando em desuso, bem como as fluorescentes compactas, hegemônicas nas vendas, mas que, pelo Plano Nacional de Eficiência Energética, deverão se submeter a um programa de melhoria de eficiência para se manterem no mercado”, conta o engenheiro eletricista Ricardo Cunha, do Escritório Arquinovação.
Cunha explica que enquanto uma lâmpada incandescente converte uma pequena parte da energia consumida (de 5 a 10%) em luz visível e o resto em calor, tendo uma vida útil de cerca de 1 mil horas, uma lâmpada LED converte cerca de 70% daquela energia em luz visível, apresentando uma vida útil extremamente elevada.
“A durabilidade dessas lâmpadas, com o selo Procel de economia, pode chegar a pelo menos 50 mil horas de uso, equivalendo consumo por 30 anos, cinco horas por dia, enquanto as fluorescentes compactas costumam ter vida útil de no máximo 8 mil horas”, destaca Ricardo.
Um condomínio novo, em Santa Rosa, com quantidade excessiva de luminárias, sendo a maior parte eletrônicas e fluorescentes e algumas dicroicas, se tornou um desafio para o síndico e administrador de empresas Marcelo Simões Maia.
“Depois de muito trabalho, hoje quase todas as lâmpadas que eram eletrônicas passaram para LED, e as que atendiam a garagem e eram fluorescentes foram em parte desligadas sem fazer diferença, já que a garagem ficou muito bem iluminada. As dicroicas também estão com seus dias contados”, frisou Marcelo.
A substituição das lâmpadas, aliadas a outras ações de redução de consumo já ajudou a diminuir gastos, e segundo o síndico, a tendência é que não seja necessário aumento de taxa dos condomínios a médio prazo.
“Acho que além da economia financeira, devemos pensar no futuro de nossos filhos e netos, e não olhar somente para o próprio umbigo. Felizmente para a maioria dessas ações contamos com o apoio e adesão dos moradores, no entanto, para a utilização das lixeiras seletivas para reciclados, por exemplo, ainda temos uma barreira entre o certo e o cômodo. Mas acredito que com o tempo vamos quebrar esta barreira e fazer com que o correto predomine”, conclui Marcelo.
Uso do gás natural também diminui despesas
Utilizar o gás natural em casa também pode trazer economia. Ele é mais barato que a energia elétrica, no caso do chuveiro, e seguro que o gás de botijão, na cozinha, se dispersando facilmente no ar em situação de vazamento. Além de servir para cozinhar e aquecer água, é usado também para aquecimento e refrigeração do ambiente e também como fonte de energia para vários aparelhos. Ele é mais barato que a energia elétrica e mais seguro que o gás de botijão, pois em caso de vazamento, se dispersa facilmente no ar. Confira as vantagens: o Mais econômico; o Proporciona maior comodidade e conforto: substitui as garrafas e depósitos de gás combustível; o Abastecimento contínuo; o Grande variedade de aplicações. Além do uso como combustível, pode também ser usado na refrigeração de ambientes, aparelhos de ar condicionado e refrigeradores a gás; o Proporciona maior segurança: não exige estocagem e em caso de um eventual vazamento, sendo o gás natural mais leve que o ar, dissipa-se mais facilmente que o GLP; o Não é tóxico; o Aumenta a qualidade de vida.
Fonte: O Fluminense