Por: *Solange Valentim
Respeito aos direitos e deveres de todos os moradores é uma regra muito conhecida pelas pessoas que moram em condomínios. Há artigos, de âmbito nacional, que versam sobre a própria Lei do Condomínio (4.591/64), o Código Civil, o Código do Processo Civil, Estatuto da Cidade, Lei do Bem de Família, Lei de Locações entre outras.
Mas lembro-me, muito bem que, na maioria das vezes, na época em que fui síndica geral de um condomínio, localizado na Zona Norte de São Paulo, no qual convivem em torno de 2.500 pessoas, eu e os membros que compunham a Equipe Administrativa, Financeira e Social, nos defrontamos, diversas vezes, com questões de vizinhança (digo parede com parede) ou mesmo na área comum, nas quais, muitos condôminos, chegavam às vias de fato. E não tinha jeito: íamos para a delegacia e/ou as viaturas tinham que ser chamadas para que não houvesse risco de violência maior.
E em alguns casos, os moradores e os adolescentes tinham um comportamento que era reflexo dos problemas financeiros que os pais enfrentavam e/ou até estavam em processo de separação, entre outros conflitos.
E nossa regra era simples: conhecer quais eram os primeiros fatos que antecederam os desaforos, os empurrões, solicitação de averiguação de uso de drogas ou outros eventos registrados no famoso Livro de Ocorrências e até confrontos mais graves, que tiveram, algumas vezes, de ser controlados com ajuda policial.
Emoções que se escondiam em nossa malha social
Com a experiência de repórter e integrantes de uma equipe que, como eu, tinham filhos pequenos e adolescentes, na mesma faixa etária, apesar dos desafios gerais, já que a maioria trabalhava de dia e dava expediente extra, na sede da Administração, durante a noite, final de semana e até feriados, tínhamos como padrão conhecer quais eram as versões de todos os envolvidos. Dava mais trabalho. Porém nada era mais verdadeiro e transparente do que reconhecer as emoções que se escondiam em nossa malha social.
Muitas vezes, em nossas inúmeras reuniões, o que percebíamos é que os desafetos e as confusões aconteciam justamente entre os que não conseguiam conviver com as diferenças. Fossem porque havia pais com o último carro do ano e/ou outro que tinha acesso a uma escola mais famosa, e outros com casos mais graves, porque tinham risco de perder o apartamento e/ou carro para o banco financiador, por falta de pagamento.
E também recebíamos as queixas dos “pequenos”, especialmente, porque os maiores (adolescentes e até adultos) não os aceitavam nos jogos. E o pior: não saiam das quadras. Neste caso, algumas vezes, os próprios pais “entravam em campo”, literalmente, para defender seus filhotes.
Em determinado momento formamos diversas equipes, com seus jogadores e treinadores (compostas pelos próprios pais e filhos) que se organizavam tão bem que foram buscar espaços mais amplos, externos e até mais profissionais para levar a garotada – meninos e meninas – para jogarem com times externos.
Muitas vezes saíamos de carros, em carreata, aos sábados e domingos, com os times feminino e masculino para os campos de clubes, localizados na Zona Norte ou quadras alugadas. Com o tempo muitos até inscreveram seus filhos em escolas de times famosos como São Paulo, Corinthians e Palmeiras.
Muitas amizades se formaram neste período, entre pais e entre filhos e permanecem até hoje.
O mais interessante é que fomos percebendo que todos eram complementares para o desenvolvimento da convivência saudável e apesar de soar piegas, nossa frase mais famosa para qualquer tipo de reclamações e melhoria na qualidade de vizinhos era: “Vamos fazer ao outro o que gostaríamos que fosse feito para nós mesmos”.
E as oportunidades de fazer ao outro foram muitas. A começar pela reforma da quadra, depois a construção de um novo parque infantil e as várias ações realizadas pelas comissões de pais, jovens e até com os prestadores de serviços, que contarei no próximo artigo, da semana que vem.
Fonte: Folha do Condominio