A impermeabilização não é eterna, precisa de manutenção constante. A fadiga e o desgaste dos materiais são as causas mais comuns.
Tudo começou com uma simples impermeabilização na laje do Residencial Florença, mas a contratação de uma empresa que não possuía a qualificação adequada inundou duas unidades no último andar. “Eles retiraram o telhado e não colocaram nenhuma proteção, quando começou a época das chuvas foi uma tragédia, a água inundou duas unidades e os moradores tiveram de deixar seus apartamentos”, revela a síndica Sandra de Sousa Goes.
Situação semelhante experimentou Guilherme Coelho, síndico do residencial Monte Parnasse na região continental de Florianópolis. “Foi horrível, a água escorria pelas paredes, pelos pontos de luz, a ponto de ter de ser retirada de balde. Em dois dos seis apartamentos do último andar tivemos de refazer toda a pintura e substituir o piso inteiro.
” A infiltração foi causada durante a instalação das novas mantas asfálticas na laje do edifício. Na realização do serviço dois ralos da cobertura foram danificados, deixando o caminho livre para a umidade. O resultado foi dois meses de muita dor de cabeça para síndicos e moradores.
Ocorrência bastante comum em condomínios, as infiltrações são causadas normalmente por vazamentos, calhas entupidas, instalações mal feitas, impermeabilizações ineficientes e até pelo uso de materiais inadequados ou pelo desgaste natural dos materiais, e provocam sérios prejuízos estruturais e econômicos nas edificações, os quais devem ser combatidos com a maior urgência possível.
As primeiras consequências das infiltrações são estéticas, com o aparecimento de bolhas e manchas escuras que desgastam a pintura, deixando uma impressão de sujeira nas paredes. No segundo momento atacam os revestimentos e, em seguida, fragilizam a estrutura, tornando o problema uma questão de segurança.
Manutenção
Segundo o engenheiro Aécio de Miranda Breitbach, membro do Instituto Brasileiro de Perícias e Avaliações de Santa Catarina (IBAPE/ SC), e ex-professor de materiais de construção no departamento de Engenharia Civil da UFSC, a questão das infiltrações é um tema muito amplo, com diversas variáveis.
“A impermeabilização não é eterna, precisa de manutenção constante. A fadiga e o desgaste dos materiais são as causas mais comuns. O terraço normalmente é feito de concreto armado que sofre uma movimentação de dilatação e contração causada pela variação de temperatura. Esse estresse causa fissuras e rachaduras por onde a água penetra na estrutura e também pode causar rachadoras na junta entre a laje e a parede lateral que não tem proteção, também permitindo a entrada da umidade”, explica.
Breitbach lembra ainda que calhas entupidas e telhas quebradas também podem originar vazamentos e infiltrações e os cuidados com a manutenção periódica desses itens pode detectar o problema antes que este assuma maiores dimensões. “Esses casos apresentam infiltrações com volume muito pequeno, mas que vai acumulando nas lajes e paredes, e os danos surgem em longo prazo. Em algumas situações os danos podem levar até um ano para serem notados.”
Também há casos onde a infiltração surge a partir do chão e sua ocorrência pode ser causada por diversos fatores como condições do solo, topografia do terreno e até mesmo questões ambientais. Chamadas de umidade ascendente, seus efeitos são notados no piso térreo e provocam estragos no revestimento do piso, caixas de inspeção de instalações elétricas e hidráulicas e nos rodapés que guarnecem as paredes.
Para cada caso, uma solução
Segundo o Instituto Brasileiro de Impermeabilização, pisos, paredes e lajes estão submetidos à umidade de maneiras diferentes, mas a evolução dos materiais permite, nos dias de hoje, que cada parte de uma edificação receba a proteção adequada para cada tipo de situação. As paredes laterais com menor incidência de raios solares, por exemplo, estão mais sujeitas à ação da umidade.
Hoje existem no mercado tintas especiais com polímeros acrílicos, com uma consistência mais grossa, que oferecem mais proteção para paredes e fachadas, diminuindo a ação da umidade e prolongando a vida útil da pintura. Também é possível prevenir as infiltrações em paredes durante a execução do projeto com a utilização de argamassa enriquecida com impermeabilizantes que vão conferir mais proteção às paredes laterais.
Nas lajes e coberturas, a manta asfáltica ainda é o tipo de revestimento mais usado em casas e edifícios. Esse produto está no mercado há cerca de 40 anos, mas recentemente tornou-se mais popular e a aquisição e aplicação tornaram-se mais baratos. Mas, os especialistas do Instituto recomendam que a manta asfáltica seja aplicada junto a um revestimento térmico que vai protegê-la da variação de temperatura, reduzindo a movimentação do material e prolongando sua ação.
A novidade mais recente para impermeabilização de lajes, coberturas e telhados é uma tinta emborrachada que pode ser aplicada diretamente na área a ser protegida, sem a necessidade de quebrar o piso existente. O produto é feito para ficar exposto ao clima, é preparado para enfrentar as variações de temperatura e ainda está disponível em diversas cores.
Para evitar infiltrações no piso, as opções vão desde o uso de argamassa aditivada com produtos à base de silicone, adesivos plásticos, selantes de poliuretano, manta asfáltica, calefação com silicone e tecidos de poliéster. Esses materiais, porém, não devem ser utilizados de maneira indiscriminada, o uso de um ou de outro vai depender do tipo de situação ou patologia apresentada.
As opções para a impermeabilização de caixas e reservatórios de água também são variadas. “Optamos pelo uso de uma tinta seladora específica para esse fim, a aplicação é feita a cada cinco anos de maneira preventiva e até hoje não tivemos problemas”, afirma Coelho, síndico do Residencial Monte Parnasse.
Mas, outras técnicas estão surgindo com resultados bastante satisfatórios como o revestimento do reservatório com fibra de vidro e azulejo de piscina que, embora mais caros, facilitam a limpeza e a conservação, ao mesmo tempo em que ampliam o tempo de garantia e evitam a ação do cloro da água nas paredes de concreto.
Qualificação no projeto e instalação
Quaisquer que sejam as situações a avaliação de um profissional especializado em projetos de impermeabilização, o emprego de mão de obra qualificada para a realização do serviço e atenção durante a execução da obra vão garantir mais segurança para síndicos, administradores e moradores. E cada detalhe merece atenção, mesmo o material da melhor qualidade depende da aplicação adequada.
Responsabilidades
Em casos em que a infiltração for causada por problemas numa área privada do condomínio, ocasionando danos na própria unidade ou em unidades de terceiros, a responsabilidade é do proprietário do apartamento de onde ela se propaga.
Porém, se o surgimento da infiltração partir de áreas comuns, como telhados, calhas, reservatórios ou sistemas hidráulicos que servem toda a edificação, a responsabilidade será do condomínio.
No residencial Florença, o condomínio acionou o Procon e agora estuda a melhor maneira de acionar a empresa judicialmente para tentar reaver os valores gastos. No caso do residencial Monte Parnasse, os danos foram causados por imperícia do profissional da empresa que realizou o serviço e, portanto, os prejuízos foram custeados pela própria empresa.
Fonte: CondomínioSC