A gestão de pessoas é o maior desafio do síndico como líder de uma coletividade. O gestor mais atento sabe que a harmonia entre moradores pode ultrapassar os muros do condomínio
Por Ricardo Karpat*
Quando pensamos na função de síndico, logo a relacionamos com uma série de responsabilidades civil e criminal, além dos mais diversos cumprimentos da legislação e das obrigações administrativas inerentes ao cargo.
Contudo, é preciso dizer as atribuições do síndico vão além, uma vez que também atua como representante, como um líder de uma coletividade.
Nesse conjunto de atribuições, inclusive, a questão humana é justamente a mais complexa a ser executada. Até porque, a gestão do síndico afeta a vida de todos ali diretamente, tanto de moradores quanto de funcionários que atuam no condomínio.
Esse cuidado ficou ainda mais evidente com a pandemia do novo coronavírus, quando a responsabilidade do síndico sobre a gestão de pessoas foi intensificada.
Num momento inédito de crise sanitária vivido por toda a sociedade, sem definição clara de diretrizes por parte dos governos em suas diferentes esferas, coube ao síndico criar para sua coletividade os protocolos de segurança e proteção, realizando uma série de adaptações que pudessem ampliar a prevenção e saúde de moradores e funcionários.
Em tempos de pandemia, embora não seja parte obrigatória em termos legais do cumprimento do dever do síndico, também entrou fortemente nessa questão de responsabilidade social a mediação de conflitos entre moradores.
Diante do aumento desse tipo de ocorrência provocada pela quarentena, com grande parte das pessoas respeitando o isolamento em suas residências, ali estava o síndico na missão de resgatar a harmonia e a paz no ambiente condominial.
Integração entre moradores
Quando se trata de responsabilidade social do síndico dentro do condomínio, o tema vai além da resolução de problemas e mediação de conflitos. Ele também entra no aspecto positivo do âmbito social, qual seja a busca por maior sociabilização e integração entre os moradores.
Nesse sentido, síndicos atentos a esse cuidado conseguem perceber que quanto maior for a integração entre os moradores, menores são as probabilidades de conflitos ali dentro.
Existem várias efemérides e ocasiões que o gestor condominial pode aproveitar para organizar esse tipo de confraternização. Contudo, tudo deve ser bem conversado, inclusive ser debatido em assembleia para buscar a aprovação da maioria, além de ser muito bem formatado e organizado, pensando que a ação não deve ser restrita a uma parcela específica do condomínio, mas deve abranger a todos.
O movimento de integração, inclusive, pode ultrapassar os muros do condomínio. Pode abranger o entorno, como o comércio do bairro, através de acordos interessantes para os dois lados.
Imagina que bacana se a comida do evento realizado dentro do condomínio fosse disponibilizada por algum restaurante da região, incentivando a economia local?
Claro, para isso acontecer sem riscos e sem desconfiança de qualquer tipo de favorecimento, também seria interessante que a ideia fosse amplamente aprovada pelos condôminos antes de ser colocada em prática.
Cuidado com os funcionários
Até aqui, abordamos a relação com e entre moradores. Mas, na temática da responsabilidade social, temos mais um grupo a quem se deve atenção: os funcionários.
Apesar de o condomínio e quem o representa, no caso, o síndico, não ter caráter assistencial, ele pode e deve ter caráter humanitário.
Esse cuidado também se tornou ainda mais importante em tempos de pandemia, já que uma ação pode não só melhorar a qualidade da vida de um funcionário, como também beneficiar todo o condomínio.
Como exemplo, é possível citar a realização de testes de COVID-19. Grande parte dos funcionários não dispõe de um plano de saúde para que possa realizar esse tipo de exame e não tem condições financeiras para custeá-lo.
O condomínio, então, pode sim arcar com o valor e incentivar que o trabalhador cheque se sua saúde está boa para exercer com qualidade sua função e, ao mesmo tempo, sem comprometer a segurança sanitária dos próprios moradores.
Agora, aqui, mais uma vez, é preciso destacar a necessidade de fazer tudo com cautela, inclusive com o apoio do conselho do condomínio, já que ainda que seja de caráter humanitário, a atitude positiva pode vir a ser questionada por algum condômino.
A reclamação, aliás, já é sabido por todos que abraçam a carreira ou o cargo de síndico, sempre vai existir. No universo condominial, a unanimidade praticamente inexiste. Cabe ao síndico ter a serenidade para ouvir, digerir e filtrar as críticas que diariamente serão feitas durante o desempenho de sua função.
Contudo, independentemente das críticas que sempre acompanham e acompanharão o trabalho do síndico, quem assume a função deve aproveitar o papel de liderança para ir sim além da obrigação e do cumprimento da legislação.
Como representante de uma coletividade, ele pode agir como protagonista para melhorar o mundo das pessoas a quem seu trabalho alcança.
Ao pensar nas questões sociais dos moradores, funcionários e até mesmo dos vizinhos de bairro, o síndico conseguirá deixar seu legado e será reconhecido como um verdadeiro agente transformador na sociedade.
(*) Ricardo Karpat é diretor da Gábor RH e referência nacional na formação de Síndicos Profissionais.
via https://www.sindiconet.com.br/