Com perfil mais arrojado, os novos gestores estão preocupados em trazer o profissionalismo para o condomínio, focados na valorização patrimonial.
Os estereótipos que envolvem a figura do síndico estão ficando no passado. Hoje a maioria dos síndicos são empresários ou profissionais liberais, que têm como desafios mediar as relações interpessoais do condomínio, investir em ações que valorizem os imóveis e atender às demandas burocráticas e estruturais, compartilhando-as com administradoras ou empresas especializadas. Esse novo perfil de gestor aponta para uma qualificação da função, em que a presença de uma pessoa habilitada é essencial para o bom funcionamento da dinâmica do espaço, que muitas vezes pode ser equiparado pela lei a grandes empresas, com inúmeras obrigações contábeis, trabalhistas, fiscais e previdenciárias.
De acordo com Angélica Arbex, que há 20 anos convive com a realidade dos condomínios paulistanos e atualmente gerencia os setores de clientes e comunicação da Lello Condomínios, a atividade tem uma enorme responsabilidade, sendo que as suas atribuições vão além do que está definido no Código Civil Brasileiro. “Eles caminham para serem agentes transformadores dos bairros e das cidades. Um estudo que realizamos recentemente mostrou que está aumentando a disputa pelo cargo de síndico, e que os candidatos estão cada vez mais jovens e mais conectados com o seu verdadeiro papel para o condomínio, para o bairro e para a cidade. São pessoas genuinamente preocupadas com a formação das comunidades, com o fomento à convivência, com a construção de vizinhanças mais amáveis e colaborativas e que entendem o compromisso que devem cumprir”, explica.
A verticalização das cidades já é um fato e até 2030, cerca de 90% da população brasileira estará vivendo em áreas urbanas. Nos anos 1980 esse percentual era, segundo o IBGE, de 67,7%. “No mundo contemporâneo, entendemos que os síndicos exercem um papel muito importante, até fundamental, na gestão das cidades. Cuidar desses espaços, que muitas vezes são minicidades, é uma tarefa que vem se transformando completamente nos últimos anos e que tem pela frente um futuro instigante e promissor”, avalia Angélica.
Além disso, ela destaca que a inovação também é pauta constante desse novo perfil de gestor, que se interessa por serviços integrados, otimização de recursos, novos formatos de contratação de mão de obra e um desenho claro de plano de trabalho com apresentação de resultados. “Espera-se que, além de toda a parte burocrática, os síndicos tenham capacidade de inovar na gestão, incluindo iniciativas de sustentabilidade e de mobilização dos moradores em torno de questões que envolvem a participação coletiva, como a segurança do edifício, a correta utilização das áreas comuns e o uso racional da água”, conclui.
Mudança no perfil
De acordo com Isabela Regina Fornari Müller, professora do curso de graduação em Administração Empresarial da Udesc/Esag e vice-presidente de Formação Profissional do Conselho Regional de Administração de Santa Catarina, com o avanço dos meio tecnológicos, novas atividades vão ganhando destaque e a transformação no mercado de trabalho traz um leque de oportunidades.
Na década de 1990, por exemplo, as pessoas que ocupavam o cargo normalmente eram homens aposentados, que tinham um tempo maior para se dedicar à gestão. Com o passar dos anos e com o aumento da complexidade no trato do condomínio, reflexo da ampliação da infraestrutura disponibilizada pelos edifícios e do crescimento no número de pessoas que optaram por viver em apartamentos, atualmente há uma predominância maior de jovens e mulheres, que acabaram se destacando principalmente pela atenção a detalhes que antes eram deixados de lado.
Mais que ser o representante legal do condomínio, o administrador deve zelar pelo cumprimento da convenção e do regimento interno, administrar conflitos de vizinhança, controlar receitas e despesas, prestar contas e cobrar os inadimplentes, entre outras tarefas. Mas ser síndico representa muito mais do que isso. De acordo com Rosely Schwartz, escritora e professora do curso de Administração de Condomínios e Síndico Profissional da Escola Paulista de Direito (EPD), os gestores estão se profissionalizando e entre as novas competências exigidas pelo cargo estão questões como a capacidade de adaptação, comunicação e comprometimento.
Além disso, ela destaca que os moradores também começaram a valorizar perfis que sejam colaborativos e confiáveis, atuando de forma ética, imparcial e proativa. “Tem coisas que são indispensáveis para ser um bom gestor e outras podem ser adquiridas com o tempo, através de cursos e treinamentos. Eu acredito que ser multitarefas e ter habilidade para resolver conflitos estão entre os principais diferenciais para se obter sucesso”, avalia a especialista.
Profissionalização
A administração de condomínios no Brasil começou a se profissionalizar há cerca de 30 anos, principalmente na última década, com o boom imobiliário e o aumento no tamanho dos empreendimentos, principalmente pelo crescimento da oferta de condomínios-clubes. Com maior grau de exigência, prestar serviço ao segmento se tornou um desafio, que incentivou e provocou o exercício de experimentação de novos modelos de gestão, muitas vezes pensados especificamente para o setor, outras com protocolos que já foram aplicados positivamente em outros setores. Além disso, com a oferta de serviços mais integrados e otimizados, as empresas especializadas se tornaram um braço direito necessário aos gestores e a figura do síndico profissional começou a surgir.
Segundo o presidente do SECOVI Florianópolis/Tubarão, Fernando Willrich, o segmento imobiliário está em constante processo de mudanças, por isso muitas vezes é preciso se reinventar e adequar a maneira de trabalhar a nova realidade. “Os condomínios ficaram enormes, a administração mais complexa e ser síndico é um desafio cada vez maior. Com isso, é notório o movimento na profissionalização da gestão nos últimos anos, sendo que essa tendência vem ganhando espaço nos grandes centros urbanos”, comenta.
Como dica, Willrich destaca que o síndico que quiser manter-se no cargo deve saber gerenciar de maneira sábia as relações interpessoais. “Hoje o administrador precisa ter no diálogo uma das suas maiores capacidades. Ele precisa ser político, no sentido literal da palavra, ter jogo de cintura, e manter uma gestão transparente. Além disso, deve estar cercado de bons profissionais que possam ajudar no ponto de vista técnico”, avalia.
Aliado a isso, ele ainda destaca a mudança no posicionamento dos moradores. “A cada dia que passa os condôminos estão se colocando mais na posição de cliente, cobrando um atendimento imediato, com profissionalismo e capacidade de resolução independentemente da natureza do problema. Isso faz com que o amadorismo fique de lado e os síndicos necessitem investir em qualificação, até mesmo os responsáveis por condomínios de pequeno porte”, ressalta Willrich.
Para atingir o seu melhor desempenho e atender às expectativas desse ‘novo morador’, Angélica Arbex indica que o candidato à administração precisa ter consciência da grande responsabilidade que a função exige. “Comandar um condomínio é como gerenciar um negócio, com inúmeras obrigações legais. Por isso, ser síndico requer atenção a atividades administrativas complexas, além de todas as questões envolvendo o relacionamento entre moradores e conflitos de vizinhança. Para dar conta de tudo, é preciso estar extremamente comprometido e ter um mínimo de conhecimento e experiência em legislação, contabilidade e recursos humanos”, explica. Ela ainda pontua que os síndicos que querem se manter na ativa ou se preparar para enfrentar a concorrência devem ter a capacidade de se reinventar.
Fique atento
A primeira coisa que o gestor tem que transmitir para o grupo é que ele tem comprometimento com o prédio e está totalmente envolvido com todas as questões que envolvem esse universo. E isso não será demonstrado pela fala, mas sim por atitudes e na apresentação de resultados.
A atividade do síndico deve ocupar uma posição estratégica dentro do condomínio e ele deve estar sempre atento às necessidades dos condôminos. É muito importante que ele faça consultas com os moradores para traçar um plano de prioridades, dividindo com eles a responsabilidade nas escolhas.
Para trazer o profissionalismo, é fundamental que o síndico encare a função com integridade e ética, utilizando técnicas de gestão como baliza para a gestão do orçamento. Só assim será possível atingir as metas projetadas para o ano e apresentar um balancete com dados que mostrem tudo o que foi melhorado, sempre da forma mais transparente possível.
Ter um plano de comunicação com os moradores, que saia apenas do livro de ocorrência na portaria. Aqui é possível ter um canal via e-mail ou aplicativos de gestão online onde as pessoas possam fazer suas pontuações e trocar uma ideia diretamente com o gestor.
Fonte: CondomínioSC